27.7.16

Não é concretismo

Eu, mulher de poesia, não sou só palavras. Hoje o palpável me foge ao toque e faz falta. Não me sinto a encantadora mulher que sou. Será que sou? As palavras não têm sido convincentes. Porque eu preciso ver a poesia se entrelaçando às minhas curvas. Eu não a vejo mais. Porque eu preciso ver a melodia rítmica harmonizando às feições da minha face. Eu não a vejo mais. Não me sinto um grande livro, hoje me sinto uma anotação. Faltam palavras e talvez não existam palavras para me fazer sentir uma grande e concreta mulher. Sinto-me sublimar. Preciso do real pra ser completa. É com essa música que sinto meu corpo dançar e ser um mundo inteiro de novo. Mas ela parou de tocar, e eu não sei como se dança no escuro. Minha poesia não sobrevive ao inteligível, mas só no inter-eu-e-você

coração devastado querendo sangrar todos os climas e tempos

Cadê? Meu giz pra desenhar um lugar de fugir quando meu coração dói e não quer ser de ninguém. Cadê? A borracha pra eu apagar minha alma quando meu coração não consegue. Ele corre atrás do fio da tua felicidade mas ela sempre foge, e foge para o passado. Ele vai exasperado atrás de tudo que possa lhe pintar um sorriso ponta a ponta pra mim, mas ele sempre quebra no meio do caminho. Ele ama te manter bem no fundo, mas as vezes é difícil e dói. Todo mundo dói na verdade, mas você dói mais quando não nos deixa alcançar teu fio. E o leva por um labirinto escuro. E bato na parede. E sangra. E dói. O amor é fogo que arde sem se ver? Fica suspeita a ardência, mas dói. E anestesia. É um soco sinestésico no meu coração que sangra e dói. Mas s e n t e.