28.12.16

Resolução 2: a criança que ainda somos

A eu criança sempre gostou de brincadeira de muita gente, de muita fala e muito canto e tudo muito alto. Mas a eu criança sempre admirou aquelas crianças que brincavam de pouca gente, de pouca fala e muito silêncio. Como será? Uma sala, uma mesa, diversos materiais. Da cozinha dá pra o ver durante horas corridas. São doces horas silenciosas cheia de arte. A gente nasce pronto pra essas coisas? A gente nasce pronto pra querer dar um pedacinho de si para todo mundo? A gente nasce pronto pra guardar todos os nossos pedacinhos num papel colorido cheio de desenhos? Essas histórias me encantam porque elas desenham o hoje. Uma criança-explosão com uma criança-fusão. Uma indagada com a outra: como pode? Queria um insight desse lado da história. Ano vai ano vem. Menina-mulher-explosão com um homem-fusão? Olha essa menina de vestido azul jogando fora toda dança que tem dentro dela pra todo mundo ver, sem medo nenhum: como pode uma menina assim? Olhe esse menino de violão da mão tocando todo talento dentro dele pro silêncio, sem querer provar coisa nenhuma pra ninguém: como pode um menino assim? E pode. O menino dos desenhos trocou os lápis por cordas, mas usa das mesmas horas de silêncio. Eu acho lindo, mas eu comecei a não entender. Será que eu não coube no silêncio? Essa resolução também é minha carta de natal atrasada. Porque meu coração só ficou pronto agora. Conexão 2013-final de 2016: hoje te vi compenetrado no infinito do teu silêncio igual via quando ainda era um mistério pra mim. E essa sensação me faz lembrar da curiosidade apaixonante que palpitou altíssimo em mim. Vi que a criança que fomos ainda existe tão fortemente dentro de nós, e sempre nos disse algo sobre quem seríamos. A eu-criança-de-muita-gente olhava curiosa pra você-criança-de-pouca-gente. E hoje, simplesmente eu olhei de novo para ti como o mistério que eu mais gosto. Eu me encontro nas pessoas, e ele se encontra nas artes da própria alma. Como pode? Ah, ainda bem que eu pude! Achei de novo a chave da pequena porta para esse mundo que me lembra a tamanha felicidade que é poder o conhecer. Eu a tranquei por um tempo sem perceber. Mas, em tempo, lembrei como é mágico poder a abrir. Fim de ano: abrindo as portas que me levam a viagem singular que é estar do teu lado. Posso entrar?

Resolução 1: amar é intransitivo.

Todo fim de ano me traz uma resolução. Esse fez doer dentro de mim, tocou o sentimento mais protegido do meu coração. Aprende, diz ele! Sente a dor da perda e aprende a ver ele indo. Para voltar. Essa resolução torturou tanto e é tão difícil aprender arriscando o que amo. Ah! Que palavra boa para cutucar todo meu medo. Amar, amar e amar. Aprende a leveza do sentimento, e ensina! Por que o torna tão pesado quando sabes que é doce, assim já o provou? Por que ficaste com tanto medo de um pequeno verbo? É mentira que é transitivo. Para quem consegues entregar humildemente o que é teu, quando és fraco, e vibrar quando és forte? Parem de complicar o amor! Amar é simplesmente intransitivo e incansavelmente plural. Eu e você. Você e eu. PLURALIDADE, simplesmente! As formas são mais diversas mas elas são as formas que desenham vocês, elas existem! Enxerguem-as. É isso que esse ano grita pra mim. E no início é só barulho e medo de não sentir o amor. Depois o encaro com medo, esquivo-me diversas vezes. Eu não sei se existo! Diz ele pra mim. Deito e choro. Mas esse ano, não muito gentil mas extremamente educador, puxa-me e me manda parar de esquivar: não queres perder? Aprenda além de você. Desse jeito cancelas tantas formas que sim, são tímidas e subjetivas, mas genuínas, e as cancela por achar que és a única que sabe o que é amor! Para de o tachar. Assim nunca haverá amor para ti. É fácil entender a própria formar de amar. Nós crescemos a exercitando e idealizando que essa é a fórmula, até se chocar com a realidade de algo extremamente maleável. É claro que dói, mas tire os olhos de tua ideia pronta e olhe para essa nova forma. Aprenda a aceitar e sentir. As diversas formas levam para o mesmo objetivo. E o ano olha nos meus olhos e mostra que sabe quando o medo compete com o amor. Ele não ganha se você não deixar. As vezes dói, mas quem dói é o medo. Amar é doce, quem deixou-me amargo foi tu, cheia de medo. Liberta-te! Aprendi a tentar, de verdade, meio cambaleando e errando as tentativas sobre você. Aí! Eu risquei nosso disco tentando aprender sobre nós. Mas cabe não só a mim, mas a nós, lembrar que vida vivida tem riscos. Cicatrizes. Arrancaram um pedaço da minha carne. "Acho que não volta mais", eu te disse, mas demorei a lembrar de todo o resto de corpo e carne e vida e força segura esses pedaços sem nada. Pedacinhos de história riscados em nós lembrando que dói, mas passa. O ano simplesmente me diz que os motivos que me machucaram são por causa dessa tal pluralidade desse formato maleável, que a língua diz que precisa de complemento mas o coração (certíssimo, concluo portanto) diz que é intransitivo. Amar não tem justificativa. Eu não vou mais tentar justificar o amor. Eu vou simplesmente amar para encher teu coração e abrir o meu, mas agora sem formas, e sim uma grande entrada para entrar tudo que você querer me dar. E o encherei até quando quiseres.

27.12.16

2016: Nietzsche professor de gênios do mal

Imagina escrever uma obra inteira sem saber que ela seria o berço que balança pequenos gênios do mal. Aposto que Hitler lia Nietzsche. Outros estranhos também. Mussolini, Mao Tse Tung, Stalin. E agora que eu e mais um monte de gente também sabe? Tem bastante gente má, e com especialização? São muitos projetos maus, mas não sei como identificar. 2016. Caçada dos que leram Nietzsche e não esquivaram o nariz. Aos que não sentem a naúsea de Sartre. Difícil achar a flor no asfalto. E no meu buquê mais algumas caíram. Mesmo com água, carinho e zelo: murcham nas minhas mãos. Escorrem e não quero mais as buscar. Ah, Nietzsche, pare com o exército! 2016 ficou difícil assim. Não sei lutar e muito menos sorrir com e para inimigos. Seguro firme meu buquê: fiquem comigo. Nietzsche me apresentou o mal, mas é com minhas flores que sigo pintando o arco íris de um, quase impossível, ano novo.

Tired of this 1 to 10 game of yours

Recebo 1 jogo 10 recebo 1 jogo 10 recebo 1 jogo 10. Não sei jogar 1. Mas 10 pesam. Mas 1 é tão pouco. De 1 em 1 eu tenho 10, mas e o débito? 10 e 100. Negativo. Continuo jogando. Um dia serei uma boa jogadora. Não de jogar 1 e receber 10. De jogar 10 e receber 10. Não diminuo aposta. Só não sei parar de jogar.

4.12.16

I like when I can't have it

Mais longe. Mais quero. Corda bamba do penhasco: eu estou. Mas cansa os pés. As vezes eu canso de dançar sozinha nas palavras, porque me sinto só. Por que me sinto só? Porque por favor, por favor, por favor! Eu quero carinho, eu sou carinho. Estou desmoronando, estou perdida quando não quero me perder. Por que só eu tenho que me achar? Por que só eu? Sempre nas palavras, nas danças, nas cordas bambas.