15.3.17

Todo mundo tem uma saudade

Cruzamos com tantas faces e em algumas tropeçamos na bagagem que levam. O passado é uma mala intransferível que sempre carrega histórias de alguém. Pesa a mala, as vezes dói a levar sozinho. Malas que poucas vezes abrimos e, quando abrimos, tiramos um pedacinho de cada vez, cheio de medo de que, quem parou para ver, vá embora. Têm pedacinhos bem quebrados e alguns a gente até consegue juntar de volta e seguir com uma coisa a menos quebrada. Mas tem uns retalhos que estão tão no fundo que não existe a remota chance de os mostrar pra alguém ou tentar os reunir novamente. Ô mala que pesa cada dia mais num lombo cada dia mais velho. Ficar velho é encher a mala, mas é também ter menos força pra a carregar sozinho. As vezes tropeçamos em pessoas que não querem ficar ou não podem ficar, e elas também pesam na mala. Mas tropeçamos com pessoas que talvez um gerente do trânsito de tantas pessoas e malas faz a gente encontrar. Ele faz eu dobrar uma esquina aqui, você ali, e mais algumas pessoas do outro lado. E, sem muita explicação, tropeçamos. E as vezes esse tropeço vira um grande objeto lindo e leve para a mala. Olhamos para o coadjuvante do tropeço e, as vezes, decidimos que podemos dividir esse peso, juntos. Não é necessário desvendar todo conteúdo da mala, pois a abrir inteira também significa que pedaços irão cair e quebrar um pouco mais. Mas aqueles pedaços intactos e fragéis e valiosos, a gente ajuda a levar. É uma mala cheia de saudade. Todo mundo tem saudade de alguma coisa que teve que pesar na mala. Mas todo mundo tropeça em alguém que faz do presente a leveza necessária para conviver com um passado pesado e prospectar um futuro mais leve. Talvez a mala não fique menos pesada, mas temos alguém para dividir o peso pela metade. E poder ter tempo de sorrir.

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